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Momento de Reforma Íntima

Quando você se perdeu de você? Como entrar no trilho e encontrar o brilho da sua vida novamente?


Sabe quando você se olha no espelho e não se reconhece?

A vida é sobre viver e deixar viver, acredito que o caminho se faz caminhando. Mas e quando você chega num momento da sua vida em que tudo que você tinha de repente não está mais sob o seu controle?

Ser mãe é uma dádiva, mas ser mulher depois de ser mãe pode ser algo irreconhecível.

Ainda adolescente engravidei, casei. Abri mão dos meus sonhos e adquiri a responsabilidade de ter e cuidar de uma família.

A gente se dá tanto, mas tanto, que chega um momento, você fica perdida e sem chão. A impressão que se tem é que agora você se tornou um ser inútil. Quando relacionamento não está mais valendo a pena, e o cansaço é a única palavra que define essa relação, é o momento de parar pra reconhecer o que foi que você fez da sua vida.

Sabe, eu vivi isso e ainda estou neste caminho de me reencontrar comigo mesma. É um caminho árduo e muitas vezes incompreendido pelas mesmas pessoas pelo qual eu me perdi. Decidi fazer esse texto na primeira pessoa, porque por mais duro que seja reconhecer nossas fraquezas e nosso lado sombra, se tornar vulnerável pode também ajudar outras pessoas que estão no mesmo barco que eu. Isso liberta, a escrita para mim é terapêutica.


Esgotamento mental e emocional


Este foi meu diagnóstico, não que eu estivesse confortável com ele, mas foi bom dar nome aos bois. Saber o que você tem e ir digerindo isso como gotas homeopáticas faz tudo ficar mais leve. Depois de muito tempo em sofrimento procurei ajuda profissional para me diagnosticar e eu mesmo perdida sabia o que eu tinha, só não sabia o nome.


Hoje olho para isso e vejo que teria sido bem mais fácil se tivesse dividido minha dor com alguém que me acolhesse. Mas não foi assim, sofri anos calada e sozinha, depois comecei a buscar por alguma coisa que me definisse e me ajudasse, já que eu pensava que era assim mesmo que se vivia. Procurei em religiões, que me deram força não nego, mas que me faziam de vítima e refém de um sistema de crenças que me davam a opção de me conformar, sem reclamar, pois eu seria ingrata se reclamasse da "ótima vida que eu tinha". Foram anos nesta caminhada de altos e baixos, muito mais baixos que altos, confesso.

Depois continuei minha busca existencial, afinal pra que se vive aqui? Para sofrer e aprender com o sofrimento, eu não quero mais isso pra minha vida, deve ter outra resposta, deve haver uma solução que eu não estou enxergando aqui. Esse era o dilema que eu vivi anos a fio sem compreender o porquê de tantas perguntas sem respostas.

Um grande vazio me consumia, mas era uma vazio cheio de interrogações e inconformismo, e era isso que me movia, que me fazia procurar sei lá o que em sei lá onde.

Depois que eu fui descobrindo muitas coisas que estavam ocultas de mim, pude perceber porque não achava respostas para o que eu sentia. Era porque a gente só vê aquilo que está dentro do que a gente acredita, da nossa bolha. Existia um mundo lá fora gigante e cheios de possibilidades que eu nem sequer imaginava. Como sempre fui profunda, mergulhei fundo nesse caminho de autoconhecimento a fim de desvendar minhas maiores dúvidas e questionamentos sobre a vida, sobre eu sentir o que sentia, sobre como funciona nossa mente e o mundo que nos cerca.

E para minha grande surpresa não precisamos ir muito longe para termos respostas. A maioria delas está bem ao nosso alcance, elas ficam em nosso íntimo ser. Se isso por um lado foi um alívio, por outro, como assim não conhecemos quase nada de nós mesmos? Nossa origem, como somos seres tão enigmáticos e cheios de particularidades.

Meu processo de autoconhecimento está bem longe de terminar, acho que é infinita essa jornada, mas já tenho algo em mim que me supre e me acalenta o coração. Algo que me trás uma paz muita boa e me dá a certeza de que estou no caminho. É o mesmo sentimento que se tem quando se ouve uma melodia serena e calma, ou quando se está navegando em mar tranquilo. Ou até mesmo quando se sente uma brisa leve no rosto. A gente tem vontade de ficar por horas ali, só sentindo e mais nada. É como se todo o barulho da vida externa perdesse total sentido. Vozes, carros, coisas, contas, assuntos, tudo isso fica para trás. É a contemplação da infinita paz. É chegar aonde tanto queria e não sabia o que ia encontrar lá. É um êxtase, um nirvana.


Como pode estar vivendo aqui nesse mundo de tanta loucura e sentir isso?

Como voltar? Como viver como se tudo fosse normal depois dessa experiência? Não sei, acho que nunca saberei, porque depois de estar nesse lugar, tudo fica infinitamente pequeno e sem valor algum. Acho que somos isso. Somos esse momento. Somos.


Preciso de um tempo pra colocar as palavras em ordem, preciso olhar pra fora e prosseguir, ver e não ver, ser apenas, deixando qualquer julgamento.


Ás vezes me vejo distante, calada, perdida, sem direção. Quando estou assim é porque o mundo me sufoca, então minha mente pulsante inquieta vive uma tormenta. E no meio desse furacão é difícil encontrar um porto seguro, isso pode durar algum tempo, então é ali que eu encontro meu refúgio.


E é assim que faço quando um turbilhão de emoções me invadem, quando o mundo fica tão tumultuado e sem respostas. É neste lugar que eu me encontro e fico lá por um tempo ganhando um novo fôlego, um respiro, um colo, um abraço, para prosseguir.


Se alguém também se sente assim de vez em quando, está tudo bem, eu te convido a experimentar esse lugar. A medicina te dará remédios, os gurus te darão inúmeras técnicas, o mundo te dará milhares de distrações. Eu já provei um pouco de tudo, mas o que funcionou pra mim foi estar nesse lugar, neste estado. Fique á vontade.


Gratidão,


Simone Paganini



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