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A liberdade não tem preço

Atualizado: 24 de abr. de 2023

Nem toda decepção te destrói, algumas te libertam



Sabe, vou contar uma história aqui, não é muito bonita nem sempre feliz, mas acho que vale pra quem chegar aqui e tiver uma história um pouco semelhante.


Era uma vez uma menina, que sonhava com coisas bobas, porém inegociáveis, e por mais que ela desejasse muito seu sonho, a cada dia ele parecia mais distante dela.

Ela teve uma infância doce, com uns mixtos de amargo, que causava um grande desconforto. Sua mãe adotiva, uma mulher forte com mãos de ferro, foi sua referencia, assim como é na infância da maioria de nós ter a mãe como exemplo. Sim, essa menina perdeu sua mãe no parto, e não conheceu ninguém de sua origem e isso lhe trazia inúmeros traumas. Ah, mas que bom que foi logo adotada, deve estar pensando, sim claro. Tirando o fato de que sua familia adotiva era um tanto desestruturada emocionalmente. Tudo que essa criança não precisava era um lar disfuncional. Ela nunca se sentiu 100% bem, ora era sua cor, era uma negra intrusa num lar descendentes italianos, ora seu cabelo causava um transtorno pois não era aceito pela sua mãe que fazia de tudo para mudá-lo. Seu pai era um homem muito trabalhador e um pouco ausente, quando estava em casa estava sempre cansado e explodia facilmente com a esposa que tagarelava sem parar reclamando de tudo. Ela também tinha um irmão adotivo 14 anos mais velho, foi adotado pela família já maior e era primo do pai. A mãe dele havia falecido, o pai era alcóolatra e os filhos foram espalhados para os parentes cuidarem. E assim ele foi parar nessa família, era rebelde e cheios de traumas que viveu em sua família de origem, além da perda da mãe, a negligência do pai e da separação dos seus irmãos. Bom, o centro dessa família era a mãe, sabe aquela italiana que fala alto e grita e faz drama? Exatamente assim, cuidava da família de modo que ninguém pudesse contraria-la pois ela se definia como sendo a que se sacrificava por todos. Como sempre dizia "faço das tripas, coração", era a frase mais usada por ela, controlava todos, na casa tbm tinha outra pessoa, a menina que foi pega a laço na Bahia para ajudar nas tarefas domésticas. Naquela época era assim, o pai como era caminhoneiro trouxe de lá essa menina cuja a familia passava fome, foi um "favor" tirar aquela menina da pobreza para trabalhar praticamente como "escrava" numa grande casa longe de sua família que ela não podia visitar pois morava em outro estado, já que ela não tinha salário nem nada. Tudo era a troco de moradia e comida e roupa, enfim, outra adotada porém sem registro. Quando essa empregada chegou nessa casa, a pequena menina tinha 4 anos e as duas logo se deram muito bem, a mocinha de 14 anos cuidava bem da menina.


O tempo foi passando e a mãe cada dia mais manipuladora, um comportamento que hoje á chamado de abusivo e diria até narcisista. Todos tinham medo dela, os empregados nem "piavam" às ordens dela. O irmão da menininha era mais resistente e apanhava muito por esse motivo. A menininha não tinha voz, a mãe raramente brigava com ela, até porque ela nunca fazia nada que desapontasse a mãe. Porém, ela sofria outros abusos, como querer mudar a essência da criança, os cabelos, nunca deixar ela escolher nada, nem suas roupas, nem ir brincar com os primos no rio, pra não molhar os cabelos, dormir de bobs, usar todo tipo de química para tentar alisar aquele "pico". Se ela ousasse reclamar ou querer outra escolha diferente da mãe, rapidamente a mãe tirava aquele discurso que ela tinha decorado de tanto falar - " eu que sempre fiz tudo por você, eu que te criei, eu que dei tudo do bom e do melhor, eu que trabalhei igual uma condenada para não faltar nada para você, é assim que você agradece?


Os anos foram se passando, as festas tradicionais era um estresse, porque a mãe queria tudo impecável, fazia muita comida, queria a casa toda lustrada e no dia da festa qualquer frase mal dita era o estupim para uma guerra de ofensas começar, jogando na cara de todos como eram ingratos, depois dela passar a semana toda organizando tudo.


E assim foi a infância da menininha, que todos que a conhecia sempre diziam -Que lindinha, não tem boca pra nada, quietinha, você é uma sortuda, dê muito valor a sua mãe pois ele te trata com uma porcelana cheia de cuidados, uma princesa. Isso acontecia depois de perguntar pra mãe se eu era aquela negrinha que ela tinha pegado pra criar, nem parecia aquele cisquinho de gente de tão mirradinha, quem diria que ia ficar "clarinha".


O seu maior sofrimento era ver como a mãe tratava o irmão e a empregada com mãos de ferro. Ela chorava muito escondida com a empregada, com quem considerava uma irmã e pelo seu irmão pois ele viva fugindo de casa. Mais tarde ele virou alcóolatra igual o pai dele. O pai da menininha era muito carinhoso com ela, para alívio do clima caótico que se instalou naquela família. Ele levava ela na escola quando podia e sempre comprava um bombom serenata ou batom pra ela. Era com seu pai que ela podia ser apenas uma criança.


Na escola a menininha era na média, poucos colegas, sempre quieta no seu canto, tinha medo de perguntar quando tinha dúvidas, tímida, nunca levou um amiguinho da escola em sua casa. Ela tinha medo da sua mãe do nada fazer aquele "barraco" que era típico de toda semana, quando ela estava sem seus remédios para nervos. Na rua todos já conheciam sua mãe como estourada, barraqueira, que era melhor ver o demônio do que sua mãe, aliás algumas pessoas falavam isso pra menininha, que tinha vontade de se esconder num buraco, de tanta vergonha.


Ela foi ficando adolescente e a vergonha e timidez só piorava. Quase nunca saia de casa, preferia ficar com a empregada jogando baralho, vendo filme ou fazendo algum serviço doméstico como encerar o chão ou lavar chiqueiros do que ter que encarar aquelas velhas conversas que ouviu a vida toda calada de que era sortuda, nunca devia esquecer o que essa família fez por ela, que estava ficando branca, bla, bla, bla...


Logo o tempo passou seu irmão se casou e foi morar longe, depois a empregada também se casou. Sua mãe cada vez mais doente e manipuladora, vivia cheia de remédios e sempre muito nervosa, seu pai mal ficava em casa pois não suportava muito o ambiente. Vivia em cavalgadas e festas agropecuárias quando não estava trabalhando. A menina mesmo sem querer e sem nenhum preparo conheceu um rapaz e começou namorar mesmo que contra a vontade dela. O seu maior sonho era viajar o mundo, conhecer outros lugares, morar longe da família e ter um pouco de sossego.


Mas isso foi ficando cada vez mais distante, seu namorado, ela gostava dele, era 7 anos mais velho que ela, ela ainda era uma pequena, frágil e insegura menina de 14 anos. Não sabia nada da vida, e ele muito sedutor e sempre presente sufocou aquela adolescente cheia de sonhos com os sonhos dele. Ele foi se enfiando na vida dela de um jeito que ela não sabia dizer não para nada que ele pedisse. Mesmo porque ela nunca soube dizer não pra ninguém a vida toda. Ele foi a primeira pessoa que olhou para aquela menina carente e parecia gostar muito dela. Ela rapidamente se apaixonou, afinal, qualquer migalha de afeto era ouro pra ela. E ele com todo jeito galanteador e romântico foi isolando ela só pra ele. Os poucos amigos que ela tinha, que eram bem superficiais, ela se afastou, os estudos ele fez com que ela fosse deixando de lado porque não tinha importância. O amor dele era o mais importante. E o mais interessante é que sua família adorou aquele rapaz, ele realmente sabia cativar todos a sua volta. Quando ela falava em fazer vestibular, ele dizia que ela não amava ele, senão pra que ir estudar fora?


Ele queria logo se casar, ele pressionava ela de toda forma, inclusive sexualmente. Eles começaram a se relacionar e ele fez uma grande chantagem dizendo que o irmão dele era estéril, então se ele fosse também não iria casar com ela, e a fez parar o contraceptivo. Ela tentou terminar inúmeras vezes sem sucesso. Eram brigas, ofensas, e muita habilidade de se colocar como vítima quando ela contrariava aquele lindo rapaz. Aliás, ela pensava que se terminasse nunca mais alguém iria gostar dela como ele. Então ela cedia e voltava acreditando nas promessas de que ele mudaria. Parecia tudo muito confuso na cabeça dela, mas a ideia de sair da casa da mãe era uma fagulha de alegria. Enfim se casaram, ela tinha apenas 17 anos e estava grávida de 4 meses. Os pais dela muito felizes fizeram uma festa de arromba. Queriam mostrar para todos o troféu da filha casar com uma pessoa, de família boa, bonito etc...

No começo foi uma bela lua-de-mel, ela grávida sendo paparicada, mas logo que ela teve a criança e ainda morando com os pais, sim, a mãe dela jamais cogitou a filha deixar aquela enorme casa com todos os cuidados e assistência que sua neta merecia. Mesmo porque a menina (vou continuar chamando ela de menina) nem sequer saia de casa para comprar suas próprias calcinhas, a mãe fazia questão de dar tudo na mão dela, tirando dela assim o direito de escolha até de pequenas coisas.

Devido ao estresse sofrido durante a gravidez naquela casa, a menina decidiu logo que a criança nascesse fosse morar na fazenda onde o marido trabalhava com o sogro. e depois de 2 meses que a linda filha nasceu ela fez a trouxa e foi morar com o marido, porque ele só vinha para casa nos fins de semana.


Parecia ser a decisão mais acertada que ela tinha feito na vida, saia debaixo das asas controladoras da mãe e o marido poderia ajudar cuidar da filha, enfim sua família estava sendo construída como deveria. A única coisa que ela não avaliou é que moraria longe de tudo e todos no meio do mato, sem vizinhos, e passaria o dia todo trabalhando muito, cuidando da filha, da casa, cozinhando em fogão a lenha, fazendo marmita pra 7 peões, fornada de pão caseiro todo dia, lavando roupa sem máquina, a ainda fazendo queijos para vender. Foi uma vida bem dura, que ela desconhecia. Filha pequena, noites em claro, ninguém para conversar e o marido foi ficando bruto e violento. Ela se sentia abandonada mais uma vez, e não sabia como consertar aquela situação. Sem terminar os estudos, sem emprego, sem profissão, com uma criança pequena se viu num mato sem cachorro literalmente.


As brigas foram aumentando, não havia diálogo nem paciência. ela entrou em depressão pela primeira vez. Ás vezes passava o dia inteiro chorando sozinha naquela casa com sua filhinha pequena. O leite secou, quase perdeu a filha com picadas de maribondos. Resolveu esquecer tudo e cuidar da filha e saiu da roça voltando para casa mãe, porque ela vivia apavorada da menina ser picada por mais insetos no meio do mato e ela não ter um hospital perto para salvá-la. Começava tudo novamente, as ofensas, gritarias, aquilo não era ambiente para criar uma criança, mas ela foi firme. Decidiu que no ano seguinte voltaria a estudar e daria um novo rumo a sua vida. O marido continuou vindo em casa somente nos fins de semana, claro que antes ele ia pro futebol e só chegava tarde cheio de cerveja.

Mas ela estava determinada, fez um curso de informática e começou a trabalhar. Se inscreveu num pré-vestibular á noite e sua mãe ficava com a filha. Ela era uma boa avó, tratava a neta como se fosse filha dela, dizia. Apesar de depois jogar tudo na cara da menina que estava cuidando da neta e eu nunca deveria esquecer disto.


A menina estava animada com os estudos apesar do marido ser contra, não falava diretamente, mas demonstrava seu desconforto. Quando chegou o vestibular foi uma prova e tanto pra menina, ela estava preparada. E ela até passou na primeira fase de direito, mas na segunda prova a pressão emocional que ela sofreu do marido foi tão grande que ela acabou reprovando.


Ela não desistiria até que acabou engravidando novamente, com apenas 20 anos esperava sua segunda gravidez, só que dessa vez era de gêmeas, ela teve que sair do trabalho para ficar de repouso e não voltou mais. Três crianças para cuidar era pesado para ela. Foram anos difíceis e cansativos, porém a alegria que ela sentia em ser mãe transbordava e superava qualquer frustação que ela sentia por ter abdicado dos seus sonhos. O casamento continuou tendo conflitos, mas ela seguia firme pois tinha agora três filhas para educar, ensinar o que é uma família, demonstrar amor, e todos os valores cristãos que ela tinha aprendido na igreja. Mesmo que sua vida não chegasse nem perto do que ela sonhou, ela decidiu se dedicar á família, Ela se sentia feliz por ter outras pessoas parecidas com ela, do sangue dela, saudáveis de cabelo enroscadinho, lindas, ela acreditou que ela era bonita olhando para a beleza das filhas.


Quando as filhas ficaram maiores ela começou trabalhar fora e sua vida tinha uma jornada tripla, quádrupla sei lá. Ela acordava muito cedo, arrumava a trupe pra escola, se arrumava pro trabalho e saia de casa voltando a noitinha pra cuidar da casa, filhos, comida, dever de casa. Tinha sempre pessoas boas pra ajudar, mas ela estava sempre exausta e no fim de semana era pra organizar as coisas pra a próxima semana. Quando não passava a manhã todinha catando piolhos rsrs. Era super comum até demais. Tinha muita paciência em fazer os deveres de casa com todas elas. Elas sempre foram ótimas alunas nas escola.


Os anos foram se passando e um dia do nada seu pai faleceu de infarto. Ela deixou o emprego e voltou a morar na roça. Foi um tempo bem difícil, pelo pouco que eles (a menina e seu pai) conversavam, eles se respeitavam e seu pai era um porto seguro para aquela menina. Sua mãe voltou a morar com ela e estava cada dia pior. Agora as brigas eram diárias, ora com a menina, ora com o marido dela, ora com os dois, ou simplesmente colocando um contra o outro. Parece que ela tinha prazer em ver o casal mal. O casal brigava demais, mas como ele sempre se fazia de vitima, tudo que a menina falasse era exagero, ninguém acreditava nela, ele era muito gente boa pra ela querer se separar. Quem ia querer depois uma mulher cheia de filhos? Iria ficar pra sempre sozinha. E sem falar que ela era dependente financeiramente do marido.


A vida dela virou um inferno, agora tendo que ficar em casa aguentando todos os insultos da mãe. E nessa situação ela se deprimiu novamente, mas agora não teria o pai pra socorrer se ela quisesse acabar com o casamento. Numa briga ela chegou a quebrar o pé tendo que engessar por 40 dias. Ela adoeceu e no meio de tudo isso engravidou da quarta filha. Foi uma gravidez cheia de problemas porque ela já engravidou deprimida, anêmica e com infecção. Sua filha mais velha com 11 anos não aceitou a gravidez da mãe e passou os nove meses ignorando a menina, foi um período de muita dor e sofrimento. A filha sempre foi muito mais apegada a avó que fez a cabeça dela.


A situação estava insustentável, a mãe dela já tinha tentado botar fogo na casa, sumiu uma noite onde foi encontrada no chiqueiro toda suja. Até deitar na rodovia, se jogar do carro etc. A menina decidiu ir ao médico com a mãe para contar o que ela estava fazendo. O médico deu remédios fortes para a mãe e depois foi acusada pela mesma que queria deixar ela louca, que ela tinha roubado os bens da família, colocando tudo em seu nome. A menina mal sabia lidar com qualquer documento, mas foi estimulada pela mãe e por uma pessoa contratada da mãe a aceitar para que não pagassem dívidas. Moral da história foi que a menina herdou todas as dívidas do pai e passou 10 anos respondendo processos na justiça. A menina foi completamente ignorada pela mãe e lidou com essas questões sozinha. Sofreu um assalto em sua casa o qual ficaram 2 horas sob as armas dos assaltantes.


Dois anos depois a menina foi morar em outra cidade com as filhas, por que os estudos ali era escasso e longe. Foram tempos difíceis também, morar com crianças numa cidade onde não se conhecia ninguém e agora pagando aluguel. A condição financeira só foi piorando e as despesas aumentando. A menina se virava como podia, economizando e fazendo alguns bicos, vendendo cosméticos, aparelhos terapêuticos, bombons caseiros etc. Tentou voltar a faculdade mas estava dificil pagar e saiu. Fez amizades novas porém o marido não gostava porque eram de outra religião. Ela enfrentou o marido e mudou de religião, quase teve divórcio por este motivo. Porém, a busca dela era genuína em conseguir manter a família unida e a igreja sustentou essa esperança por algum tempo.


As brigas agora já eram violentas e suas filhas presenciando tudo deixava a menina cada dia mais triste e sem perspectivas de melhoras. foram inúmeras tentativas de separação fracassadas. Sempre pelo mesmo motivo, não concordarem em nada, não gostarem das mesmas coisas, ter que abrir mão do que queria, falta de dinheiro, ser agredida verbalmente e fisicamente, ela estar sempre sozinha e não ser reconhecida pelo sacrifício que ela fazia pela família, sua mãe narcisista só visitava pra arrumar confusão e fazer críticas. Se percebia uma certa inveja da filha, pois os desejos da filha eram sempre ignorados pela mãe. Como por exemplo a filha querer fazer uma cirurgia plástica de correção depois das gestações, e menina nunca mais usou um biquíni pois tinha vergonha de sua barriga flácida e cheia de estrias. A mãe porém falava que era bobagem, e fez uma plástica escondida da filha.

A menina viveu isso com a mãe que até chegou a dar parte da filha na delegacia por violência física e verbal. Faz chantagens, se enfia na casa dela sem ser chamada e fica lá quantos dias quiser. Este, acho que foi o maior golpe que ela sofreu jamais superado. Foi uma facada, ser interrogada por algo que vc nunca fez acusada pela sua mãe. E o seu marido que não te apoiou e não aceita a separação.


A menina nunca teve apoio nem do marido nem da mãe pra nada, e se sentia incapaz de melhorar sua vida com tantos traumas ao longo da vida, ela não tem estrutura psicológica para lidar com tantos abusos. O irmão adoeceu de cirrose e veio a falecer. Apesar dela gostar muito do irmão, teve de se afastar dele por conta do marido e da mãe que não gostavam dele. A vida dela era cuidar da família e ainda assim era chamada de ingrata, que não ajudava em nada e outras coisas bem piores.

Os arrombos de alegria dela se resumem nas vitórias das filhas e no netinho. Quando não se tem alegria própria, nos apropriamos das comemorações dos filhos que se tornam nossos troféus, afinal, fizemos algo de bom pro mundo.


Ela se afastou das amizades por vergonha, ela não tem um familiar para apoiá-la. Ela se sente sozinha, desamparada. Se ela tivesse dinheiro ela iria sumir. Ela precisa se libertar para continuar viver. Ele não é entendida, as filhas dela até tentam ajudar, mas ela não gosta de envolvê-las nestes problemas. Cada um segue sua vida, o tempo vai passando. Ela sente que sua vida parou, ela sente muito cansaço mesmo sem fazer nada. As ideias embaralham na sua mente, um dia ela quer dormir sem parar, outros fica sem dormir quase a noite inteira. Ela não quer tomar remédios porque ela sabe que não vai resolver a causa de sua angústia se não mudar o que está causando o seu sofrimento. E o pior, ela acha que agora mesmo se ela sair fora de tudo isso, ela não consegue se reerguer, tamanho foi o estrago feito em seu emocional. Ela está presa, ela precisa ser livre.


Abusada psicologicamente pela mãe e emocionalmente, fisicamente e até sexualmente pelo marido, ela somente agora entende o que viveu a vida toda.

É o famoso ciclo do abuso - apronta - pede perdão - pede sua ajuda - volta com você - fica bonzinho - te culpa. Morde e assopra. Grita, xinga, puxa cabelos, quebra seu celular, fala que você é louca, pede perdão, faz promessa de mudança, te manda flores, diz que não vive sem você, depois culpa você por ele ter se descontrolado e começa tudo de novo.


Ela procurou fazer cursos de terapias para tentar entender o que acontece com ela. Ela se culpa por ser assim. Ela sempre achou que o problema é ela. Ela quer se curar e não desiste de viver. Alguns dias ela se entrega e não tem forças para levantar da cama, outros ela se anima achando que tudo vai mudar, até que o marido do nada joga um balde de água fria em seus sonhos. Ele consegue desestabilizar emocionalmente a menina, a ponto dela abandonar tudo só pra ter paz, para não ficar ouvindo reclamações. Foi sempre assim e até hoje ele tem esse poder sobre ela, o qual antes era muito bem ocupado por sua mãe. O trauma é tão grande que ela não quer mais ouvir ameaças do tipo, "sempre fiz tudo pra te agradar, sem você eu morro". Uma pessoa que faz questão de te contrariar por simples prazer de te irritar, que não sabe nada sobre você, que não pergunta como você está, que só te liga pra saber se recebeu o dinheiro para pagar tal conta.



Resultado

Ela está esgotada emocionalmente, psicologicamente traumatizada e sem nenhuma condições físicas pra exercer qualquer função. Ela adoeceu seu corpo por tentar suportar isso tudo por tantos anos. Inúmeros problemas de saúde se desenvolveram. Coluna torta, bico de papagaio, joelho com desgate, gastrite crônica, refluxo grau C, enxaquecas, infecções urinárias de repetição, fluxo menstrual intenso impedido até de sair de casa, anemia, fora os problemas mentais como ansiedade generalizada, depressão e por último uma labirintite emocional.


Ela disfarça muito bem, ela ficou grossa com as pessoas, fria em demonstrar suas emoções, vestiu uma máscara de felicidade e ninguém vê o seu rosto como é. Tudo para esconder sua criança ferida, sedenta por um abraço sincero de uma mãe verdadeira. E a menina que só desejava ser amada sem cobranças, porque ela não aguenta mais nenhuma cobrança. Ela vive sozinha, fala sozinha, escreva para desabafar e chora no seu canto sem incomodar. É uma solidão a dois. E hoje depois de estudar muito ela consegue se descrever aqui. Ela é apenas uma humana vivendo seus dramas humanos com suas crises existenciais.


Ela sabe o quão difícil é se recuperar, juntar seus caquinhos, se refazer, e sabe também que nunca mais terá aquela alminha pura do comia goiaba no pé não vendo maldade em ninguém nessa vida. Essa inocência foi tirada dela a força bem cedo.


Sinto a necessidade de deixar expresso aqui que não sinto raiva desses atores que atuaram em minha vida, mesmo não sabendo, sou responsável pelas minhas escolhas ainda que inconscientes e encobertas por relações viciadas numa dependência emocional.


Essa é uma história real de uma menina que sonhava em viajar e nunca viajou, as viagens dela se resumem em suas viagens astrais que ela faz todas as noites por ai em vários universos, varias vidas e outras realidades em seus sonhos, onde ela acorda um pouco feliz por ter essas experiências sozinha em sua cama.


Se leu até aqui, gratidão.



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